21 de fevereiro de 2010

Mais um lamento

Vai ser difícil, vai
Encontrar um amor como o seu, ai
Como dói no meu peito
Seu gosto é bem do jeito que eu gosto
Bem do jeito, lamento

Que é só mais um lamento entre tantos já feitos
quisera desse jeito lembrar de outros tempos
só pra matar um pouco a saudade
mesmo assim querendo que você não ouça
meu grito aqui de longe
minha dor, meu lamento

(Céu)



19 de fevereiro de 2010

Coração de Duralex

Meses depois da última atualização, eis que o "Memórias de uma moça bem comportada" ressurge das cinzas. A melancolia dos últimos posts permanecem. Só que desta vez o coração de duralex não suportou a queda. Desta vez, não era para ter caído. Ele não podia ter caído.
Sem saber como, o coração de duralex foi parar no chão. Quando espatifou, ele virou milhares de pedacinhos, muitos pequeninhos, daqueles que escorregam para baixo dos armários, do fogão, da geladeira, até na comida do gato aparece um caquinho. É impossível juntar tudo, algum quadradinho sobrevive em um canto do rodapé. Este caco é o que cansou de sofrer, abandonou o barco, não quis voltar para o peito. Dói, dói muito mais quando falta um pedaço.
Com o tempo, você encontra alguns cacos perdidos pela cozinha da vida, mas não todos, sempre falta um pedaço, o prato nunca mais fica completo. No peito fica a ferida do caco desgarrado. Depois de muito tempo cicatriza.


Um texto do meu amigo Drauzio Varela...


Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não-fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo à porta. O amor não é chegado a fazer contas, não obedece a razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estrelar. Costuma ser despertado mais pelas flechas do cupido que por uma ficha limpa. Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só referenciais. Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca. Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera. Você ama aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas que ela não respondeu, você deu flores que ela deixou a seco, você a levou para conhecer a sua mãe e ela foi de blusa transparente. Você gosta de rock e ela de chorinho, você gosta de praia e ela tem alergia a sol, você abomina o Natal e ela detesta o Ano Novo, nem no ódio vocês combinam. Então? Então que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais viciante do que LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome. Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai ligar e não liga, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário, ele escuta Egberto Gismonti e Sivuca. Ele não emplaca uma semana nos empregos, está sempre duro, e é meio galinha. Ele não tem a menor vocação para príncipe encantado, e ainda assim você não consegue despachá-lo. Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Ele toca gaita de boca, adora animais e escreve poemas. Por que você ama este cara? Não pergunte para mim. Você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos filmes de Woody Allen, dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia romântica também tem o seu valor. É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucura por computador e seu fettucine ao pesto é imbatível. Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo. Com um currículo desse, criatura, por que diabo está sem um amor? Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados. Não funciona assim. Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o Amor tem de indefinível. Honestos existem aos milhares, generosos tem às pencas, bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó! Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é.